quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Por - Lêda Maira - 2011

                                Sociologia? Achei, no Pantanal! 

   
Encho-me de sol, muito calor e depois saboreio a noite até chegar seu frescor, misturada ao cheiro de sua água. Águas do rio que caminha e se junta as mais belas baías, que são Chacororé e Siá Mariana, que se destacam entre tantas outras em meios a galhos, macacos, aves, pássaros, cigarras, cobras, capivaras, jacarés. Onde estou? No pantanal, lugar de raiz, de rara beleza. Lugar para sonhar, criar, meditar, inventar e acima de tudo preservar. Pantanal, pantaneira, buscar em ti literatura para meu trabalho e para as histórias que inevitavelmente narramos, tornando-as poemas, contos e crônicas. Histórias vividas e outras que se criam.
O sol nasce, tão cedo e é tão suave pela manhã, que nos leva a cirandas. O verde alguém já disse, tem cheiro de quitanda, e suas águas às vezes amarelas, às vezes negras ou café com leite, leva o coração a bater no compasso do pilão. Pilão, utensílio de costume pantaneiro para fazer paçoca de carne, culinária tão saborosa, cheirosa, iguaria que se come a qualquer hora. Pantanal com seu sol ardente, sons de bichos, onde seus cavalos, cavalos pantaneiros, tocam o gado, gado pantaneiro por sua grama verde rasteirinha, pulando sobre suas águas tão alvas em meio à fauna e flora que estão por todos os lados.
Pantanal onde as pessoas andam e os pés descalços, estarão sempre molhados e sem sentido de medo de pisar seu solo.Pantanal que nos leva a ler poemas ao contar as estrelas embaladas pela lua tão clara e mesmo quando escuro total, colhemos com os olhos, os olhos reluzentes de seus bichos ao correr a luz da lanterna em volta. E assim varrendo com todo o corpo, poros e o que posso desta grande paixão, vou pintando o pintado, peixe da região. Traçando riscos sobre o barro, sobre o papel, e anotando daqui e dali, formamos letras que juntadas as de outros passam a ser de todos, virando lenda como as que,absorvi às que criei e saio contando às vezes até cantando como pretendo com algumas deste texto, fazer e quem sabe mostrar aqui.
O nascer do dia, fantástico. Os pássaros voam sentido à caça, que trabalho! Alimentar-se e levar para seus filhotes. A fauna obedece aos ensinamentos naturais e toda a bicharada vai atrás, com o mesmo objetivo, mas sem deixar de planar, mergulhar e boiar. Beliscar e roer em intervalos quase constantes. Observar, parar, sentir o vento, coçar, esfregar o corpo sobre o que melhor convir. Difere do homem, que quando para...Faz dizendo: Não posso; Estou atrasado; Não tenho tempo.
Hoje vi descendo as águas uma canoa, daquelas bem artesanal, fininhas, dá até medo quando não sabemos nadar, eu pôr exemplo, só sei boiar e olha lá. Duas pessoas remavam, movimentos que faziam em total silêncio, alias as águas os levavam e eles observavam o caminho ou, destino? Talvez o povoado. Os jacarés cobriam de vez em quando seus corpos fortes e bem espetados mergulhando e observando provavelmente uma presa fácil, aquelas que dão bobeira, uma leve vacilada e é literalmente abocanhada.
Águas por que te quero! Cobrir o solo! Fertilizar a terra...
As plantas aquáticas, lindas! Com flores brancas, rosa, lilás e ás vezes amarelas, cobrem certos canais e suas curvas que vão oferecendo sensações, estímulos nítidos e por que não a certeza que estamos vivenciando... O Jardim de Monet! Como não pintar, como deixar este cenário fora do nosso trabalho, como não riscá-lo em uma tela enorme.
Fotografar? Sim, mas é muito mais saboroso mexer a tinta, achar a cor certa e dar vazão aos olhos que reviram e diz: Fui capaz. Indiscutível.
Pantanal! Suave, cheio de rococós, rendas, fendas onde o sol penetra e muda suas cores, oferecendo com o balanço das águas um arco infinitamente íris. E lá vamos nós. Gostaria de ter o mesmo objetivo dos nativos da região, mas, temos que acordar, voltar a realidade, então vamos colhendo dados, anotando-os.
Chegamos perto de um ninhal. Lindas árvores, verdes, marrons com flores, sem flores, belas, cheias de garranchos, cipós, galhos que sobem e que descem com a mesma magia para o céu e para água. Pássaros de todos os tamanhos, brancos, quantidade? Infinitos em verdes, amarelos, vermelhos, coloridos. Mergulham, planam, coçam, rodam e mechem suas cabeças, piscando tão rápido, tão serelepes fazendo qualquer um rir e esquecer de tudo, neste momento ou por um grande momento.
O piloto bate a mão na lateral de fora do barco. Neste momento o motor está desligado, mas isto não importa, poderia estar funcionando. Este barulho provoca um roncar e peixes de vários tamanhos começam a saltar à frente, isto é, eles continuam nadando e saltam para fora da água, manifestando... presença! Como se: Estamos aqui e o passeio está sendo muito bom, ou pode ser também; Parem com este barulho... Momento espetacular. Não dá para conter a emoção... É demais! Neste instante ficamos com a narração sufocada, não há o que dizer e deslizando sobre as águas junto conosco, centenas de peixes, peixinhos, que às vezes batem sobre nosso corpo, caem dentro do barco, fazem a emoção aflorar. E se olharmos para cima, para o alto, os pássaros iniciam a maior algazarra tentando fisgar um belo almoço. E lá na beira do barranco: O barqueiro nos informa que jacarés ficam observando, esperando a hora de abrir aquele imenso boqueirão. Cobras? Não, de vez em quando, elas são bem discretas, esperando o momento certo. Agora as ariranhas, capivaras e seus lindos filhotes podem até estar com a barriga cheia, mas vão abocanhando e com certeza, espertas como são... Pensando... Humanos!... Está barulheira, só pode ser humanos agitando.
O barco vai deslizando cada vez mais devagar, silenciamos, acalmamos e em total observação às copas das árvores é que os macacos, sagüis, não se aproximam se não houver silêncio, o mesmo para os pássaros, não pousam. Os macacos? Até agora, não vimos nenhum, quem sabe mais tarde. Bem, seguimos por um bom tempo olhando o tempo. Quase hora de almoço, e quase chegando ao povoado, onde estaremos com as pessoas, ribeirinhos.
Já são águas do Rio Cuiabá. Neste instante um velho casarão está em frente nossos olhos. Fotografo. Belo! Ali abandonado passa a ser fruto da minha imaginação, perdido ao tempo, oferecendo a estória que quiser contar, ou ouvir ou...indagações? Não só ele, mas seu proprietário poderia contar a sua história e elas existem, certamente, estão lá em algum lugar é só procurar.
Bem, chegamos à cidade. Desembarcamos e vamos subir um leve morro calçado com paralelepípedos. Rua bem estreita, de um lado casinhas, um ou dois botecos, um hotel pequeno, com a fachada, ou seja, sua frente cheia de flores. E reparo ao entrar que é bem limpinho simples e acolhedor. Almoçar aqui, comida caseira, gostosa e o lugar bem tranqüilo. Falta de fome? Imagina; Arroz, peixe, salada, farofa de banana! Só vindo aqui e experimentando, para saber do que estou falando e acompanhado por bebida de cada gosto, meu caso, água bem gelada, bastante água ou ainda um gelado suco de caju, fruto que dá em qualquer lugar por aqui. Depois do almoço esperamos o sol acalmar, por volta de três horas, retornaremos ao acampamento. Até lá ficaremos apreciando a calma do lugar, conversando com moradores, ribeirinhos e fotografar. Conversar com às pessoas são momentos lúdicos e o que realmente se faz da hora que chega até a hora que sai. A conversa inicia-se ao aproximarmos, desembarcar e durante a estada e vai até depois que nós despedimos e afastamos da margem e enquanto for possível ouvir a voz de cada, deixando para finalizar este assunto na próxima visita. Gostoso, muito bom ouvir e estar com todos e trazer estas anotações na memória, na máquina para próximos passos, novas pinceladas e a cabeça já tentando coordenar este trabalho. O caminho é longo e à partir de agora com o pôr do sol, que logo estará tão belo, tão próximo, oferecendo a sensação de podemos alcançá-lo e com ele caminharmos até o final da outra margem, onde o pensamento é capaz de dobrar e não ver margem, nós transportando à um outro lugar da terra, pra onde ele, este sol for. E neste arroubo nós deslocamos com visão, audição bem esperta e com o coração no mesmo compasso, aguardando o que a natureza nós reserva neste novo entardecer. Lentamente, acompanhamos o caminho, entraremos em canais agora turvos por causa da mata e plantas aquáticas, que neste horário ficam mais verdes traduzindo um visual totalmente diferente a cada instante, até avistarmos as águas de Chacocoré novamente.
Não olho as horas, imagino e registrando tudo avistamos novamente o primeiro ninhal deste grandioso santuário. Desligamos o motor, seguimos em silêncio, estado quase que obrigatório neste grande, imenso manancial.
Fazemos uma nova leitura, aprendemos mais um pouco e com certeza, quantos forem os dias em que permanecermos teremos sempre uma nova visão, um momento diferente do outro, mas com um detalhe; sempre belos, ternos, grandiosos e nos levando a uma conscientização cada vez maior de respeito, educação e reflexão que certamente nos levará a avaliar nossa qualidade de atitudes diante de nossas reais necessidades.

Um comentário:


“Mudemos nossas imagens mentais, que os sentimentos cuidarão de si mesmos.”

Registre sua opinião, peça opinião, discute as opiniões. Mudanças acontecem, quando a significação preocupa o nosso interior.